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Biodanza e o Princípio Biocêntrico
A intuição, em torno da qual a Biodanza se
organiza, está conceitualmente formulada no Princípio Biocêntrico.
Este novo paradigma para as ciências humanas propõe orientar todos
os empreendimentos sociais e educacionais para a criação de uma
estrutura psíquica capaz de proteger a vida e permitir a sua
evolução.
A Biodanza usa uma metodologia vivencial dando ênfase à experiência
vivida mais do que à informação verbal; permite começar a
transformação interna sem a intervenção dos processos mentais de
repressão.
O Princípio Biocêntrico constitui o paradigma que poderá servir de
fundamento para as Ciências Humanas do futuro: Educação, Psicologia,
Jurisprudência, Medicina e Psicoterapia.
O Princípio Biocêntrico situa o respeito pela vida como centro e
ponto de partida de todas as disciplinas e comportamentos humanos.
Restabelece a noção de sacralidade da vida.
O Princípio Biocêntrico inspira-se na intuição de um universo
organizado em função da vida e consiste numa proposta de
reformulação dos nossos valores culturais que toma como referencial
o respeito pela vida. Tudo aquilo que existe, elementos, estrelas,
plantas, animais, incluindo o ser humano, são os componentes de um
Sistema Vivo maior.
O universo existe porque existe a vida e não o contrário.
As relações de transformação matéria-energia são estados diversos de
integração da vida.
Nossa abordagem epistemológica parte do ser vivo.
A vida não é simplesmente a consequência de processos atómicos e
químicos, mas o programa implicado que guia a construção do
universo.
A evolução do universo é, na realidade, a evolução da vida.
Neste sentido, compartilhamos a abordagem de David Bohm: sob o
domínio explicado pela ciência, subjaz um domínio implicado de
totalidade indivisa: "Os dados reais da ciência - diz Bohm - só
parecem ter sentido sobre algum tipo de fundamento implicado ou
unificador, ou transcendental, subjacente aos dados explícitos".
A partir do Princípio Biocêntrico podemos conceber o universo como
um gigantesco holograma vivo.
A experiência da unidade mística e da Identidade Suprema é, para
nós, perfeitamente válida. Podemos descobrir, nesta vivência
fundamental, as raízes de uma cultura da vida.
A desconexão dos seres humanos da matriz cósmica da vida gerou,
através da história, formas culturais destrutivas. A dissociação
corpo-alma e a repressão da experiência paradisíaca conduziram à
profunda crise cultural em que vivemos.
Se tomamos como ponto de partida as propostas intrínsecas que surgem
do acto de viver e da comunicação entre os seres vivos, temos que
abandonar, com decisão absoluta, qualquer tipo de fundamentação
cultural baseada no dinheiro e no assassinato. Os interesses da vida
nem sempre se conjugam com as exigências da nossa cultura.
Assim, por exemplo, todo o delírio jurídico do Oriente e do
Ocidente, com seus códigos e tribunais de justiça, se baseiam na
propriedade privada, e não na vida. As guerras são também a
expressão dessa psicose colectiva que nega a sacralidade da vida. A
cultura deveria estar organizada em função da vida. Nossas formas
culturais são anti-vida.
O Princípio Biocêntrico, surge de uma proposta anterior à cultura e
se nutre dos impulsos que geram processos viventes.
Este delineamento é biocosmológico e não antrópico, cosmológico ou
teológico.
O Princípio Biocêntrico propõe a potencialização da vida e a
expressão dos seus poderes evolutivos.
Biodanza é, deste ponto de vista, uma poética do vivente, baseada
nas leis universais que conservam e permitem a evolução da vida.
Todas as acções de Biodanza orientam-se em ressonância com o
fenómeno profundo e comovedor da vida.
Participamos do pensamento visionário de Albert Schweitzer:
"Meditando sobre a vida, sinto a obrigação de respeitar qualquer
vontade de vida ao meu redor, por ser igual à minha. A ideia
fundamental do bem é, pois, que este consiste em preservar a vida,
em favorecê-la, em conduzi-la a seu valor mais alto; e que o mal
consiste em aniquilar a vida, lastimá-la, pôr entraves ao seu
florescimento". (A. Schweitzer: O problema da ética na evolução do
pensamento humano).
Penso que a vida não surgiu da matéria, mas que a matéria se ordena
em relação às possíveis estruturas da vida. A causa do universo é a
vida.
Desde há milhares de anos temos vivido dentro de um contexto
cultural alienante. Mas, se o universo está vivo desde o começo, a
cultura do futuro será uma Cultura da Vida.
Os parâmetros de nosso estilo de vida são os parâmetros da vida
cósmica. Em outros termos, nosso movimento, nossa dança,
organizam-se como expressões de vida e não como meios de alcançar
fins externos. Vivemos para criar mais vida no íntimo da vida.
Se as condições culturais e socio-económicas são anti-vida, nós nos
propomos a mudar este sistema, não com a ajuda de uma ideologia, mas
restabelecendo em cada instante, em nossa vida, as condições de
nutrição da vida.
Não é a consistência ideológica de uma pessoa que interessa, mas a
sua consistência afectiva, a sua prática do movimento-amor.
O Princípio Biocêntrico põe seu interesse num universo compreendido
como um sistema vivo de grande complexidade. O reino da vida abarca
tudo o que existe, desde os neutrinos até os quasares, desde as
pedras até os pensamentos mais sutis. Toda expressão, todo
movimento, toda dança, é uma linguagem viva.
O sentimento de amor poderia ser definido como a experiência suprema
de contacto com a vida.
Através da Biodanza chegamos à fonte originária dos impulsos de
vida.
Dança, Amor e Vida são termos que aludem ao fenómeno da Unicidade
cósmica.
O núcleo criador da cultura do terceiro milénio está por nascer com
a restituição da sacralidade da vida.
Rolando Toro in www.biodanza.org
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