As Danças Rituais

Criação em movimento, a dança conserva ainda hoje o mesmo significado que possuía nos tempos mais remotos: tanto os homens primitivos quanto os nossos contemporâneos buscam atingir, através do aprofundamento da consciência, o contato com as forças superiores do universo. É dentro deste contexto que a Biodança trabalha as Danças Rituais baseadas na Trilogia dos deuses hindús, integrados por Brahma, o criador, Vishnu, o conservador da vida e Shiva que simboliza a eterna transformação do universo.

Brahma

Dança da Criação: Algumas religiões orientais intuem um movimento primordial, um gesto. A criação emerge de uma dança geratriz. Em outras religiões, como no Gênesis judeu-cristão, a origem do mundo é o sopro divino, a voz, o alento de vida, a palavra que designa o nome das coisas, dando-lhes identidade e resgatando-os do informe, do caos. As cosmogonias em distintos povos, tem portanto, uma filiação "corporal"ou bem "espiritual". Espírito, respiração, alento, alma, sopro, prana universal. Para reproduzir em uma dança a vivência pessoal da criação do mundo, foram tamados os elementos mais universais, as séries de movimentos que conduzem do caos ao cosmos. Este processo não é um ciclo fechado ou linear, responde ao modelo evolutivo em espiral logarítmica. O universo assim, se aperfeiçoa através de sucessivos processos de integração em circuitos vitais cada vez mais diferenciados. O mecanismo integrador é o amor comunitário, a vinculação com a vida. A dança do deus hindu Brahma, tem o objetivo de induzir a vivências da criação cosmogônica desde a semente primordial ao triunfo do amor, despertando em cada um de nós a potencialidade e a exaltação criativa.



Vishnu


Dança da Conservação: Vishnu é o deus da conservação dos ciclos vitais. Representa a forte inércia biológica que reitera e conserva a vida e o universo.É a beleza do permanente, o que gera segurança e confiança. Todos os dias, o amanhecer, a lua na escuridão, a mesma seqüência das estações, a notável estabilidade das estrelas no firmamento. Os seres queridos permanecendo dentro de nós, a felicidade de ver sempre um mesmo rosto. As variações que se dão, com harmonia, dentro dos mesmos padrões. A Dança da Conservação induz a profunda necessidade de movermo-nos dentro de padrões de estabilidade, com referência a um centro afetivo aderente, pleno de continente. O cuidado do calor íntimo da vida e do lar, guardar o fogo dentro de nós, permanecer no êxtase do cotidiano, conectados com a terra, rejeitando as mudanças, dar a vida a solenidade necessária para fazer dela um lar de crescimento e maturação. A dança de Vishnu está cuidadosamente estruturada para induzir ao estado de serena harmonia, estabelecendo os eixos dentro de um sistema que proporciona equilíbrio ao nosso corpo sobre ambas as pernas.



Shiva


Dança da Transformação: Shiva é a personificação da dança e das transformações, simbolizando a eterna mutação do universo, que consiste na cíclica destruição e criação. O processo cósmico é a morte e a ressurreição, eterna renovação da vida. Dentro de nós mesmos, a ação de Shiva seria a de morrer para nosso velho corpo e renascer a um novo ciclo da vida. A dança tem por tema a atividade cósmica, a eterna transformação.

 


As cinco atividades divinas de Shiva são:

  • A criação contínua do universo, originada no ritmo;

  • A conservação, baseada no equilíbrio e na medida dos movimentos;

  • A destruição das formas já superadas, mediante o fogo interior;

  • A eterna renovação;

  • A encarnação da vida.

Chama a atenção que o deus da Dança, Shiva Nataraja, seja ao mesmo tempo o deus das Mudanças, o que implicaria que as mudanças são induzidas pela dança. Shiva é representada com o pé direito esmagando um demônio, o que simboliza a vitória sobre as forças demoníacas da destruição, e o esquerdo no ar, representando o equilíbrio e o impulso de ascensão. A imagem possui quatro braços, com os quais realiza a criação e a destruição cíclica do mundo. Está rodeado por um círculo de fogo. A dança de Shiva é, portanto, um movimento que destrói para gerar o processo de criação. Inspirado nesta dança e em sua simbologia de transformação, foi elaborada a "Dança das Transformações", que possui três atributos essenciais do movimento: Unidade, Equilíbrio e Harmonia.

Hoje em dia, os sagrados rituais de dança desapareceram do nosso mundo, e os poucos lugares onde ainda são praticados, têm acesso muito difícil. Mas ainda persiste no homem a necessidade de expressar suas emoções através dos movimentos e desta forma, a cada época, vemos predominar um estilo musical que traduz todo o sentimento daquela geração. A Biodança busca reacender assim, dentro de cada um, a chama sagrada da vida, resgatando, nas vivências de Danças Sagradas, o contato com as forças que regem o universo.